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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Revolução Francesa - A Face Científica

França, 1789. Os ares do país estavam saturados de idéias revolucionárias de ordem política, moral e humanística que resultariam, após um período tempestuoso, na modificação da ordem social do país e cristalização de um pensamento global de “igualdade, fraternidade e liberdade”, que até hoje vigora em todo o mundo na forma da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa revolução, entretanto, ocorreu também no âmbito científico e, no que tange a química, foi protagonizada por Antoine-Laurent Lavoisier, e outros estudiosos da época. Dentre seus principais trabalhos, destaca-se a padronização de nomenclaturas, antes utilizadas sem critério por alquimistas, e reunião de teorias e leis postuladas até então, que o permitiu escrever o “Tratado Elementar da Química”. Apesar do grandioso trabalho realizado, que facilitou posteriores estudos na área da química, foram publicadas hipóteses e explicações para fenômenos científicos que, apesar de sua lógica convincente, atualmente tem-se conhecimento que são falaciosos.


Exemplificando, Lavoisier estudou a mudança do estado de agregação de substâncias. Em seus experimentos, constatou que quanto menor era a temperatura que um sólido era submetido, maior era a proximidade entre suas moléculas e, inversamente, quando aquecidas, aumentava-se o espaço intermolecular. Este estudo o levou a concluir que quanto maior a temperatura, maior era a força de repulsão e que, caso fosse atingida a menor temperatura possível (ainda se desconhecia o Zero Absoluto) não haveria mais forças de repulsão. Consequentemente, as moléculas se tocariam.
Desta forma, segundo Lavoisier, as moléculas possuem uma força natural de atração e, conforme se aumenta a temperatura, surge uma força de repulsão, que as afastam até que, a uma dada temperatura, as forças de repulsão superam as de atração, transformando o sólido em líquido ou gás. E essa força de repulsão pode ser hipotetisada pela existência de uma “substância real e material, de um fluido muito sutil que se insinua entre as moléculas de todos os corpos e que os separa” [1], chamado “calórico”, também responsável pela sensação de calor (acúmulo) ou frio (“des-acúmulo” deste).
Vale ressaltar que Lavoisier e os outros cientistas diziam que “ninguém era obrigado a adotar o calórico como uma substância real” e já propunham discussões entre a relação “calórico – Luz”, hoje sabidamente duas formas de energia. Sendo assim, a hipótese da existência de uma substância que governa as forças de interação molecular foi apresentada de maneira lógica e convincente, aceita por químicos de maneira geral, até que esta teoria fosse derrubada, com o desenvolvimento de tecnologia e fundamentos físicos suficientes para provar a existência de calor como forma de energia.
Esta limitação tecnológica e conceitual que nos leva a inconscientes raciocínios errôneos, no entanto, esteve presente na existência do ser humano desde as antigas civilizações. Os gregos acreditavam que todas as substâncias eram formadas pelos quatro elementos e o éter; os axiomas da igreja católica fizeram com que a crença do geocentrismo perdurasse por até 500 anos atrás; até mesmo a teoria da força vital que, ao ser derrubada, abriu o ramo de estudos da microbiologia; e mais inúmeras hipóteses e teorias que deixaram de ser verdades são exemplos e a prova de que as tais limitações técnico-teóricas não só estiveram como estão e sempre estarão presentes na vida filosófica e científica.

Este texto, no entanto, não é, sob nenhum aspecto, uma crítica a teorias que antes eram tomadas como verdades e hoje foram refutadas. Bem pelo contrário, graças à existência de trabalhos como o desenvolvido por Lavoisier em seu “Tratado Elementar da Química” – e a nossa possibilidade de provar suas incoerências – é que os avanços tecnológicos, teóricos e filosóficos acontecem. Este texto é apenas uma nota de que não devemos nos ater, crer e, sobretudo, reproduzir o que nos é passado em nossos centros de estudos (Universidades, Indústrias, Centros de Pesquisa, etc.) sem antes contestar e olhar criticamente as informações que nos são passadas.

Pensar e analisar, desde conceitos simples à grandes teorias, como o evolucionismo ou as teorias que prevêem o destino da terra diante do aquecimento global (Teoria de Gaia, Teoria da Variação Solar), teorias sociológicas, procedimentos médicos, etc., podem e certamente nos levarão à uma sociedade melhor, sobre vários aspectos. Temos de ser cautelosos e analíticos para poder firmar bases sólidas para um progresso humano. E tomar cuidado, pois, “quem sabe, as universidades de hoje não são as igrejas de ontem”.

[1]Lavoisier, A. “Tratado Elementar da Química”, Paris, França, 1789. Tradução: Editora Madras, São Paulo SP.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns pelo Post!...

    Primeiro post do Daniel aqui no Entropia Livre! O primeiro de muitos excelentes posts com certeza!...

    Realmente lembrar e compreender a história, assim como aprender os caminhos pelos quais o pensamento científico nasce é essencial para aprendermos e quebrarmos paradigmas!

    Abraço

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